Pode-se dizer, que apesar do longo domínio masculino sobre o mercado da construção civil, as mulheres vêm ampliando sua participação no mercado, trazendo competência, foco e liderança na execução de tarefas tanto no nível operacional como no estratégico, agregando qualidade às decisões. E, desta forma, contribuindo significativamente com a produtividade e competividade no setor, incluindo a utilização do BIM nesse contexto.
É o que nos conta neste artigo
Priscila Almeida, BIM Manager, Embaixadora Zigurat e Alumni do
Master Internacional em BIM Management.
Ao receber o convite para escrever este artigo decidi abordar esse tema a partir de minha experiência na área do BIM que mais me interessa: a implementação de BIM em organizações. Esse interesse nasceu com a realização do Master Internacional em BIM Management por desejar fazer parte do grupo de profissionais que estão transformando o setor da Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação (AECO). Assim, tenho atuado com o desafio de implementar o BIM de forma estruturada, gradual e flexível em empresas de engenharia e no setor público por meio de um processo que venho aprimorando através de uma abordagem sistêmica, o qual é consolidado em um Plano de Implementação BIM.
Inicia-se com o levantamento e análise da situação atual, a partir de uma análise sistêmica dos ambientes externo e interno para identificar as oportunidades/ameaças e os pontos fortes/fracos em cada um desses ambientes. Posteriormente, consolida-se um diagnóstico fundamentado pela análise das competências (Políticas, Processos e Tecnologia), pela verificação do Grau de Maturidade BIM e pela análise SWOT, e a apresentação dos fatores críticos de sucesso. Com a compreensão do diagnóstico, identifica-se os requisitos que o planejamento da implementação deve considerar no momento de traçar as grandes escolhas estratégicas e as ações decorrentes por meio de um Roadmap. E, por fim, tratar dos aspectos do retorno do investimento, da cultura colaborativa e dos perfis BIM dentre outras especificidades de acordo com a organização.
Desta forma, a metodologia de desenvolvimento de trabalho busca o entendimento do atual grau de maturidade da organização, os objetivos estratégicos em relação ao BIM e níveis a serem alcançados com os avanços nos graus de maturidade desejados. Tendo como base para a estruturação do planejamento da implementação do BIM uma visão sistêmica da organização.
Nessa busca pelo grau de maturidade BIM desejado, o Plano tem o papel de apresentar claramente quais resultados as organizações pretendem alcançar com a implementação do BIM e fornecer uma direção segura para, com flexibilidade, orientar as correções de rumo que se farão necessárias, em decorrência de alterações conjunturais comuns na vida das organizações. Neste contexto são considerados o tempo necessário para o processo de implementação do BIM e a variação dos recursos a ele destinados.
No Plano, também são identificadas as necessidades de aperfeiçoamento no que tange as perspectivas Políticas, Processos e Tecnologias. Tais perspectivas contribuem para identificação das necessidades de capacitação de pessoas, reformulação de processos de acordo com a metodologia BIM e as necessidades de softwares/hardwares para a prática da gestão em BIM. A seguir, compartilho algumas considerações que devem ser compreendidas por àqueles profissionais que pretendem atuar com implementação de BIM.
A metodologia BIM proporciona um potencial enorme para o setor AECO, por ser baseada no uso de sistemas que permitem integrar toda a informação útil de uma construção, analisando e gerenciando efetivamente todo o ciclo de vida da mesma de uma forma colaborativa entre os diferentes agentes envolvidos.
Sobre o trabalho colaborativo e integrado é importante destacar que exige uma mudança radical de processos e dos fluxos de informações (troca de arquivos digitais/ documentações). E que essa troca de informações não segue o trajeto linear habitual, um caminho no qual naturalmente muitas das informações geradas são perdidas ou ocultadas. Pelo contrário, todas as informações deixam de pertencer ao agente que a gera, e passam a pertencer a própria construção em uma única base de dados, na qual todos os agentes que participam do fluxo de trabalho, alimentam este banco de dados da construção de acordo com o seu papel.
Outro ponto de atenção, pois é o que viabiliza a otimização do fluxo de trabalho, é a forma de produção e armazenamento das informações. Diferente de outras formas de trabalho, todas as informações geradas da construção ficam associadas aos respectivos elementos que compõe o modelo de forma parametrizada em um ambiente comum de dados. O que demanda a adequada parametrização dos elementos que compõe os modelos BIM e a adoção de softwares que sejam openBIM, para facilitar a interoperabilidade das informações ao longo do ciclo de vida das construções.
Outro aspecto importante ressaltar é sobre a maturidade BIM nas organizações. Por existir diferentes níveis de maturidade, é preciso ter clareza do nível almejado para poder traçar estratégias de incorporação do BIM de acordo com os recursos disponíveis da organização. Uma vez que os investimentos vão além da compra de softwares e treinamento de pessoal, e passam seriamente por mudanças de processos de trabalho e, principalmente, por mudança da cultura colaborativa.
Vale mencionar também alguns requisitos para uma efetiva implementação do BIM nas organizações, pois são aspectos que devem ser buscados durante a execução do Plano. Dentre eles:
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- Implementação gradual, de forma paulatina de acordo com os recursos humanos e tecnológicos disponíveis a cada momento
- Maximizar o retorno sobre o investimento
- Trabalho colaborativo (Cultura colaborativa)
- Interoperabilidade (troca de dados em formato aberto)
- Trabalhar em Ambiente Comum de Dados (CDE)
- Organização da informação orientada para objetos
- Os envolvidos no projeto terem competências em BIM
- Expansibilidade e flexibilidade, para abranger toda a organização
- Coerência dos processos internos com as práticas BIM
Concluindo, atesto que os ganhos profissionais auferidos com o estudo, desenvolvimento e atuação em implementação de BIM em organizações privadas e públicas são significativos. E, ao longo dessas experiências, percebo um aumento da presença feminina na construção civil e no BIM devido à determinação no estudo e no trabalho e ao empreendedorismo da mulher no setor AECO.
Priscila Almeida, BIM Manager. Engenheira civil pela UFRJ, Mestre em Engenharia Urbana pela UFRJ e BIM Manager pela Zigurat. Vasta experiência em gestão estratégica, gerenciamento de projetos, consultoria em gestão para empresas públicas e privadas, gestão acadêmica e docência que possibilitaram o desenvolvimento das capacidades analítica e visão sistêmica. Pesquisadora de cidades sustentáveis, resilientes e inteligentes e das tecnologias BIM/ CIM/ Digital Twins no processo de melhoria contínua da dinâmica das cidades. ALUMNI DO MASTER INTERNACIONAL EM BIM MANAGEMENT. |
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