|
Rogerio Lima, Diretor do Master Internacional em BIM Management
Fundador | Diretor da RLIMA Arquitetura e Consultoria | LinkedIn |
Nesta entrevista, dividida em dois capítulos, Rogério Lima, Diretor do Master Internacional em BIM Management, nos explica quais são as implicações do Metaverso na arquitetura, engenharia e construção civil e nos conta como podemos nos preparar para a transformação digital que atualmente acontece na indústria. Leia aqui a segunda parte da entrevista e saiba mais. (parte I)
Em relação ao custo, descobrir quais são os fatores com potencial de melhoria no metaverso, é uma vantagem apesar do investimento inicial nessa tecnologia?
Exatamente. O que acontece muitas vezes é que o profissional é contratado, faz um determinado projeto, mas o cliente que o contratou não entende esse projeto como um todo. O cliente olha para o projeto, mas não vê o que nós, profissionais do setor, vemos, porque o nosso cliente não está formado para isso.
Normalmente, os nossos clientes não são engenheiros e arquitetos, mas alguém de outra profissão. O 3D nos ajuda muito neste sentido. Ao ser mais visual, facilita o entendimento do cliente. No meu escritório, por exemplo, eles querem tudo em 3D, nada de planta baixa.
Para ir um pouco mais longe, vamos imaginar que você pode dizer a essa pessoa para quem fez o projeto: “Agora vamos entrar na casa que fiz para você.” Você pega essa pessoa pela mão e diz: “Esta é a sua sala” e você pode fazer isso mesmo quando a sala ainda nem sequer está construída.
Essa pessoa pode se sentar no sofá, olhar a sua sala e fazer observações sobre o projeto muito antes da fase de obra. E isto é uma clara vantagem, porque essas observações feitas à simulação já serão incorporadas na obra. Logo, nos permite reduzir o tempo, o trabalho e o desperdício na execução do projeto. Nos permitindo corrigir os erros antes que eles existam no mundo real.
Para essa modelagem funcionar, é necessário que todo o entorno esteja já também modelado? Ou seria possível integrar imagens do Google Street View, por exemplo? Será que o Metaverso na arquitetura caminha no sentido da união entre análises de GIS e BIM?
Eu acredito que sim. Cada vez mais, vamos aproximar esses dois mundos, o do GIS e o do BIM. É inadmissível que estejam separados, principalmente quando se fala de City Information Modeling ou de BIM aplicado à infraestrutura. Estas tecnologias precisam conversar.
Modelagem com Google Street View
Portanto, em um futuro, acredito que ambos estarão relacionados sem distinção. Tudo vai estar muito bem interligado, sem distinção. Será muito simples integrar uma imagem do Google Street View. Nessa altura já estará bem mais avançado e integrado ao espaço que estamos criando.
Hoje em dia, já podemos construir um modelo e enviá-lo para dentro do Google Earth. Portanto, passar disso para o fato de podermos incluir as imagens do Google Street View no nosso ambiente de modelagem imersiva, é um salto pequeno e fácil. Imagino que será perfeitamente possível fazê-lo.
No seu ponto de vista, as experiências imersivas a partir do Metaverso podem transformar a nossa percepção de mundo?
Acredito que a nossa percepção do mundo vai mudar muito. Imagine que, no futuro, vamos ter duas tecnologias que já existem hoje, porém, muito mais evoluídas.
Onde há investimento, há desenvolvimento. Atualmente, há muito investimento na vinha do Metaverso. É claro que há muita especulação, mas também há muito investimento real e sério com o intuito de desenvolver essa tecnologia.
Então, temos, por um lado, a realidade virtual que promove a imersão e, por outro lado, a realidade aumentada que permite ter, aqui no mundo real, um acréscimo de informações a este mundo. Esse avanço proporciona uma conexão de forma homogênea e fluida entre o Metaverso e o mundo real.
Recentemente, a Google lançou uns óculos, muito parecidos com aqueles que usamos no dia a dia, ligados à realidade aumentada. Imagina que encontro alguém na rua e essa pessoa fala japonês. Eu não sei japonês, mas com esses óculos eu poderei ver, mediante legendas, a tradução do que essa pessoa diz. Tudo isto em tempo real. Isto nos faz ver como a tecnologia evolui muito rápido.
Imagem gerada por DALL·E 2
Também podemos mencionar a inteligência artificial. Você imagina tudo isso, toda essa tecnologia, acrescida desse componente. Estes dias, vi uma foto de dois robôs tomando chá ou café e, como fundo da fotografia, estava a Torre Eiffel.
Essa imagem não foi feita com Photoshop nem usando nenhum programa de edição de imagem. Essa imagem foi criada por inteligência artificial. Alguém escreveu: “dois robôs tomando café com a torre Eiffel ao fundo” e a inteligência artificial gerou a imagem.
Existem, hoje, perfis no Instagram que foram feitos por inteligência artificial. As imagens, as fotos, são feitas por inteligência artificial. As pessoas não existem. Aquelas interações que essa conta faz no feed é realizada por meio de inteligência artificial. Imagine tudo isto num espaço de Metaverso.
Aqui surge a pergunta: o que é real? Será cada vez mais difícil responder a essa pergunta que vai mudar drasticamente a nossa percepção do mundo.
Bom, esperemos que as pessoas não percam a criatividade…
Eu também espero que não. Os alunos compartilham sempre a mesma dúvida, de se vão perder o emprego ou como vai ser o futuro do setor. Vai haver sempre alguém que vai desenvolver o sistema e vai haver alguém que diz que quer. Uma sala grande, uma cozinha boa, dois quartos… E o sistema vai fazer o projeto.
Eu acredito que isto vai existir. No entanto, não acredito que isto tire espaço ao arquiteto, porque nós estaremos fazendo outras coisas que a máquina não vai poder fazer ainda. Nesse sentido, acredito que as pessoas estarão sempre um passo à frente.Quem trabalha com criatividade, tem uma clara vantagem sobre a máquina. A preocupação será muito maior para pessoas que trabalham em áreas muito técnicas. Quanto mais técnica é a tarefa, mais simples será transformá-la em um algoritmo, numa solução automatizada.
E isto é perigoso, porque aí há que encontrar outra maneira possível de trabalhar. Uma alternativa é trabalhar no desenvolvimento dessas máquinas, programando ou fazendo a manutenção.
Robô trabalhando em uma obra
Será preciso mudar a forma de trabalhar para não se perder o emprego nem o espaço de trabalho. Acredito que a consequência deste avanço tecnológico não eliminará os empregos, mas sim criará outras oportunidades.
Ao ver um robô montando uma parede, um grupo de alunos disse: “Isto é mau, porque os pedreiros vão perder o emprego”. Mas aí eu pergunto se sabem quanto de carga um pedreiro carrega por dia e quanto isso afeta a sua saúde física.Se tivermos um robô que pode tirar toda a carga dessa pessoa? E se essa pessoa puder se dedicar a outras atividades? Se especializar para se dedicar a outras funções, não seria bom?
O que é preciso, e isto é óbvio, são políticas públicas para gerir esta mudança de paradigma. Abrir espaço para que estes profissionais se capacitem para realizar novas tarefas.
Como profissionais, como podemos nos preparar para esse futuro tecnológico?
A primeira grande dica é se interessar por isso. Quem não se interessar, precisa ficar muito preocupado, porque se para alguns já é difícil entender BIM, imagine quando chegar tudo isto.
E aqui há que ter atenção a uma coisa: nada disto é futuro. Tudo sobre o que estamos aqui a conversar é presente. A única coisa que lhe falta é desenvolvimento.
Claro que há coisas que precisam melhorar, mas até mesmo em BIM há coisas que ainda precisam se desenvolver. Ao nível do Metaverso na arquitetura, tudo o que se discute já existe, já funciona e já há muita gente ganhando muito dinheiro com isso.
Portanto, a primeira dica para quem não quer ficar atrasado é começar já a se interessar por isso, em entender como funciona, o que é preciso para se poder trabalhar com essa tecnologia, quais as competências que se precisa desenvolver para realizar esse trabalho.
E aí é preciso ter em conta que essas competências correspondem a três requisitos. O primeiro, é o conhecimento de saber trabalhar com as ferramentas certas, conhecer a teoria que está por trás de tudo isto. O segundo, é a habilidade de saber modelar, de saber programar.
Portanto, entender de programação é importantíssimo para esse ambiente, assim como entender de modelagem. Entender sobre coisas como criptomoedas ou NFTs é fundamental para quem quer ganhar dinheiro com isso.
O terceiro são as atitudes que dizem respeito às nossas relações interpessoais com tudo aquilo com que vamos lidar nesse ambiente. Não vamos poder pensar enquanto prestadores de serviços, o que a maioria de nós, como arquitetos e engenheiros, somos.
Não poderemos pensar com a cabeça aqui fora, da maneira que vimos fazer até hoje. Portanto, as atitudes, as formas de agir, precisam ser adaptadas a esse novo ambiente e nós precisamos fazer uma reflexão muito profunda sobre como atender esse cliente que já não tem limites geográficos.
Eu posso trabalhar para alguém que está em Barcelona e eu nem sequer saber que essa pessoa está em Barcelona, porque estaremos juntos no Metaverso. Então, como eu atendo essa pessoa? Como chego até ela?
Tudo isto depende de uma mudança de postura, uma reflexão diferente. Não podemos o Metaverso na arquitetura com mesmo modus operandi que usamos no mundo real, porque não vai funcionar.
O Metaverso implica outra dinâmica, outro pensamento. É claro que simulamos muita coisa do mundo real lá dentro, mas há tantas outras oportunidades além disto. Então, eu diria que conhecer programação, conhecer modelagem e conhecer softwares ligados à construção de videogames já nos dá uma boa dica de como será realizar certas tarefas naquele ambiente e nos ajudará a refletir sobre o que é esse novo mundo.
O que é esse novo mundo profissional? Como devo agir e me comunicar com as pessoas nesse mundo?
Recentemente, vi uma casa, muito bonita e muito parecida com a casa de Tony Stark, um exemplo do Metaverso na arquitetura. No entanto, olhando bem para essa casa, a sensação que me deu foi que ela era velha.
A casa de Tony Stark nada tem de velho, mas a mesma réplica, no Metaverso, me pareceu velha e descontextualizada. Por quê? Precisamente porque ela era igualzinha a uma casa do mundo real.
Casa de Tony Stark construida com LEGO®
Por que motivo essa casa tem pilares debaixo, se no Metaverso não há gravidade? Algumas soluções arquitetônicas dessa casa no Metaverso não precisavam ser daquela forma; poderiam ser muito mais ousadas. Uma vez que o cliente, e a sua proposta, remonta a uma pessoa extremamente ousada, e a casa não está sujeita às amarras físicas, poderia ser muito mais explorada. É por isso que me pareceu velha.
Conclusão
Portanto, eu diria que um dos ingredientes importantes para se adaptar a este novo mundo é refletir sobre ele. Perceber qual é o metaverso na arquitetura, e entender que não deve ser igual à arquitetura convencional. Podemos beber algumas coisas do mundo real, e até mesmo ter simulações parecidas. Acredito que nós podemos ir muito mais além. Prepare-se para o futuro com o nosso Master. Saiba mais aqui Master Internacional em BIM Management.