Em entrevista para
Zigurat,
Leonardo Acquarone,
BIM Manager da
AECOM no Brasil, aborda os temas:
Experiência Internacional e adaptação para
Implantação do BIM,
Metodologia AECOM para modelos em BIM,
Workflow da empresa e
Trabalho Colaborativo,
Projetos BIM,
Processos,
Quality Assurance e Quality Check, Dificuldades do mercado e as
Vantagens do uso da metodologia
BIM
Como que é o mundo AECOM?
A
AECOM é uma empresa multinacional considerada a maior empresa de engenharia do mundo. Pelo tamanho e escala que possui o mundo AECOM é verdadeiramente global, no entanto, devido às particularidades do mercado AECO nos diversos países em que atua, ela se adapta as exigências locais para ser competitiva e entregar um produto final adequado. Há um
mix de expertise global com conhecimento local através da união dos profissionais que são os experts globais em suas respectivas áreas com os times locais.
Você fez o International Master BIM Manager, então aplicou alguns conhecimentos na AECOM como BIM Manager da empresa e como o BIM e a tecnologia ajudam essa equipe multidisciplinar a trabalhar no dia a dia?
Apliquei e continuo aplicando. Hoje estamos adaptando a expertise global em BIM da
AECOM ao mercado brasileiro e o maior ganho que a nossa equipe brasileira teve foi uma melhora exponencial na compatibilização dos projetos e na extração de informações dos modelos BIM como quantitativos de materiais e equipamentos de forma mais rápida e correta se comparado ao método tradicional que era muito baseado em estimativas.
A equipe que realiza juntamente contigo esses projetos em BIM, já foi escolhida com requisitos de qualificações e competências BIM pré-definidas ou você foi responsável por dar essa formação?
Parte da equipe hoje já tinha "bagagem" teórica e pratica em projetos BIM, no entanto estamos treinando tanto o corpo técnico quanto o time de gerência e de vendas para entenderem melhor o fluxo de trabalho em BIM. A
AECOM possui um sistema de treinamentos
in-company já bem estabelecido que nos ajuda a disseminar o conhecimento do BIM de forma mais fácil.
Como funciona o trabalho colaborativo na AECOM e o que ele afeta nos projetos realizados e entregues aos clientes?
Hoje no Brasil o nosso diferencial é a busca por compartilhar as informações e os modelos BIM dos projetos com todos os
stakeholders, entregar um excelente resultado final em projetos cada vez mais complexos, com cronogramas cada vez mais enxutos e com nível de conflitos igual ou bem próximo a zero.
Acreditamos que para realmente alcançar todo o benefício da metodologia BIM precisamos que todos os participantes do projeto tenham acesso a informação necessária e de forma rápida para que o processo decisório seja mais rápido e acertado, gerando um projeto e uma obra da mais alta qualidade e satisfatória para nossos clientes.
Você gostaria de demandar no mercado de trabalho pessoas com competências e perfis BIM já minimamente maduros? E, já que agora conhece o International Master BIM Manager, acredita que essa formação corresponde e vai formar pessoas com a possibilidade de responder a sua demanda?
Sim, consideramos importantíssimo que futuros profissionais que venham a integrar o nosso time tenham o conhecimento não só do que é o BIM, mas principalmente do fluxo da informação em um projeto BIM que é diferente da metodologia tradicional.
Eu acredito que o
curso da Zigurat prepara o aluno para entender as mudanças necessárias tanto de mentalidade de trabalho quanto de diferenças práticas de se trabalhar numa metodologia BIM. Hoje o mercado brasileiro ainda não amadureceu o suficiente para termos uma massa crítica de profissionais com larga experiência prática em BIM e as
formações teóricas da Zigurat são fundamentais para qualquer um que queira ingressar numa grande empresa como a AECOM.
O que pode dizer sobre a sua experiência como aluno e formando do International Master BIM Manager?
Um conselho que posso passar a todos os alunos é que tenham um papel muito ativo durante toda a formação, não tenham medo de pedir ajuda e principalmente não deixem de estudar todo o material complementar. Por ser um curso on-line é fundamental que os alunos se comuniquem de forma constante com os professores e equipe de suporte para poder ter um total aproveitamento de tudo que é oferecido pelo curso, caso contrário o aluno estará literalmente jogando dinheiro fora.
Os fóruns de discussão técnica são um bom exemplo, quando nenhum aluno fazia uma pergunta ao professor no fórum dava-se a entender que ninguém tinha dúvidas sobre a matéria dada e, portanto nenhuma troca de ideias ocorria, no entanto bastava um aluno fazer uma pergunta para que em seguida uma série de novos questionamentos surgisse na esteira da pergunta original e ocorria a troca de ideias e soluções. Isso pra mim evidenciava que havia certa vergonha ou timidez por parte de muitos alunos, o que acabava os prejudicando, uma vez que o ensino é uma via de mão dupla, é necessário que os alunos contribuam de forma ativa também
Você está aplicando padrões, guias de estilos e manuais para regular e alinhar as informações dos projetos BIM na AECOM?
Sim, como dito anteriormente muito material já existe padronizado pela AECOM global e estamos adaptando grande parte dele para o Brasil. Este material que estamos montando vai inclusive fazer parte do catalogo global da
AECOM, hoje estamos alinhando os manuais e padrões por projeto, mas em breve com essa aprovação do time global de BIM da AECOM vamos alinhar todos os nossos futuros projetos.
Na aplicação concreta em projetos, nota-se uma exigência por parte dos clientes uma padronização standard?
Na maioria ainda não, infelizmente, e os que pedem uma padronização ainda não estão longe do nível de exigência de outros clientes globais com os quais tive contato. É tudo uma questão de evolução da maturidade do BIM no Brasil, acredito que nos próximos 10 anos haverá uma boa evolução nas exigências dos grandes clientes como grandes incorporadores, construtoras de grande e médio porte, governo federal, etc.
A AECOM usa como estratégia de marketing o fato de ser uma empresa BIM Oriented? Como é essa relação de marketing com o mercado?
A
AECOM faz muito marketing global não só do fato de ser uma empresa BIM
oriented como de toda a sua expertise técnica em várias mídias como revistas especializadas no setor AECO, internet, mídias sociais, etc. No Brasil temos feito um marketing direto com cada um dos nossos clientes atuais e potenciais onde mostramos nossos trabalhos anteriores e fazemos apresentações técnicas específicas de usos que o BIM poderia agregar a aquela empresa em particular e aos seus produtos.
No ponto de vista da infraestrutura que existe na AECOM (hardware, software), de alguma maneira acredita que o conhecimento das diversas ferramentas durante o Master, possibilitou uma abertura em relação a escolha das tecnologias usadas na empresa?
Sim, na verdade um BIM Manager tem como uma das suas atribuições dar suporte a equipe de TI da sua empresa para a escolha de hardware adequado para a execução das tarefas em BIM. Nessa seara é impossível economizar, pois se pode colocar em risco todo um planejamento, um fluxo de trabalho BIM de um projeto. Eu considero fundamental que seja feito uma analise muito criteriosa se os equipamentos que a empresa possui no momento são adequados e em caso contrário se há capacidade financeira de adquirir novos equipamentos de TI.
O Brasil está em um processo de criação /adoção da normalização, mas ainda não há algo concreto que se deve cumprir a respeito das normas BIM. Você tem tido essa preocupação de procurar respeitar alguma norma em particular ou a empresa tem um sistema de validação da qualidade dos modelos que entregam e do BIM que fazem?
Temos um sistema de qualidade interna para controle dos nossos projetos inclusive com participação da equipe global de BIM na análise inicial da nossa capacidade de atender ao escopo do cliente. Eu respondo a este time de experts globais quanto ao andamento do projeto, necessidades de ajudas que por ventura eles possam dar a equipe local, nível de qualidade que estamos alcançando, etc.
Eu participo das reuniões da
ABNT CEE134 cujos membros estão engajados na criação das normas BIM brasileiras e padrões a serem adotados e tenho trazido o que vejo nas reuniões da ABNT para o time da
AECOM. Já existe a norma
ABNT 15965 que define um sistema de classificação da informação da construção e que é fundamental para que toda a cadeia AECO no Brasil unifique as nomenclaturas dos elementos digitais nos modelos BIM permitindo que as informações criadas em diferentes softwares e plataformas conversem entre si de forma adequada.
Por exemplo, um cliente pode solicitar um projeto que será desenvolvido por várias equipes diferentes, cada uma na sua disciplina. Se cada um nomear de forma particular a mesma categoria de elementos pode ser impossível para um software de extração de quantitativos montar as tabelas e quantidades de forma rápida e correta.
A norma
ABNT 15965 pretende uniformizar o código/nome de cada categoria de elemento a ser utilizado em toda a cadeia AECO permitindo que qualquer equipe e seus modelos BIM se comuniquem de forma adequada.
Você teve dificuldade para introduzir os processos BIM no meio dos processos tradicionais na AECOM? Quais foram?
Internamente nenhuma devido ao suporte global da
AECOM. A única coisa que há ainda é um receio que muitos clientes, por não terem conhecimento nenhum da metodologia BIM, não se planejem para receber as informações e modelos BIM nos tempos e formas diferentes, comparado a metodologia de trabalho antiga e não integrada. Todo o cronograma, entregáveis do projeto, nível de detalhamento, entre outros tem uma evolução diferente e cabe a nós educar e alinhar as expectativas junto a todos os participantes do projeto.
Quais as dificuldades do mercado brasileiro para a implantação e aplicação de BIM?
A maior dificuldade que eu vejo hoje é a letargia geral de se entender que é necessário investir mais tempo e esforço na etapa de projeto para economizarmos muito mais na etapa de execução/obra e operação do empreendimento. Além disso, a indústria AECO é a menos desenvolvida em termos de digitalização de todas as indústrias humanas e essa análise está presente em uma dezena de teses de mestrado e doutorado, periódicos especializados, sites especializados, etc.
Enquanto até setores bem tradicionais da economia como a agricultura está abraçando novas tecnologias disruptivas em busca de melhorar a sua eficiência a indústria AECO esta parada no mesmo lugar. Esse panorama está começando a mudar com alguns países já cobrando níveis de maturidade BIM nos seus projetos e obras e o Brasil precisa se movimentar nesse sentido também senão ficaremos ilhados num mundo que busca constantemente maior produtividade e usa sem medo a tecnologia para alcançar este objetivo.
Quais as vantagens do BIM no trabalho que é feito para cada cliente?
Hoje no Brasil a maior vantagem é a compatibilização de todos os projetos de arquitetura, estrutura e complementares entre si o que gera um enorme valor positivo aos nossos clientes. A segunda busca da
AECOM no Brasil hoje é criar um fluxo de compartilhamento de quantitativos dos modelos BIM que atrele os preços ao desenvolvimento do projeto permitindo que o cliente veja em tempo real o impacto financeiro de suas decisões. Os estudos de projeto nas etapas iniciais de concepção e estudo de massa são uma etapa de elevada importância para tomarmos decisões que vão impactar o projeto como estudos energéticos e de sustentabilidade e que queremos trazer para o mercado brasileiro usando a nossa metodologia, mas infelizmente em geral não se dá muita atenção e nem o tempo adequado para essa etapa tão importante.
Quais recomendações que você daria para uma empresa que começará a implantar BIM?
Dar um passo de cada vez é essencial, existem vários usos possíveis para o BIM e deve-se buscar aplicar um a um de cada vez até que toda a equipe consiga dominar o novo fluxo de informações. Buscar sempre unir o conhecimento técnico e teórico dos seus profissionais mais antigos e experientes com aqueles mais jovens e mais versados em informática e programação é essencial, uma vez que a metodologia BIM permite que se resolvam todos os problemas de um projeto, mas não é de forma alguma um substituto a boa engenharia e a boa arquitetura.
Há algum tema que não foi abordado na entrevista que gostaria de acrescentar e comentar? Qual?
Gostaria de ressaltar que é muito importante o intercambio de ideias entre profissionais, órgãos de classe, universidades e empresas brasileiras com suas contrapartes no exterior. Já existem fluxos, normas e métodos de trabalho consagrados na prática em países como a Inglaterra, Finlândia, Estados Unidos entre muitos outros, os quais deveríamos pesquisar, entender e aplicar no Brasil com a devida “tropicalização” necessária.
Não precisamos, e não podemos no Brasil, perder mais tempo nenhum tentando “inventar a roda” uma vez que já saímos muito atrasados nesta evolução da indústria AECO.
SOBRE O ENTREVISTADO
Leonardo Acquarone é Arquiteto e Urbanista formado pela FAU/UFRJ (2008). Também é formando da 1ª edição do International Master BIM Manager da Zigurat. Iniciou sua carreira com projetos de arquitetura efêmera de shopping centers e hoje é BIM Manager na empresa AECOM.
Quer saber mais sobre o International Master BIM Manager? Clique abaixo: